quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Quem tem medo de rótulos?


    
*Por Nicolas Powidayko

O advento da consulta para reitor tem suscitado acusações desesperadas por parte de grupos radicais na Universidade de Brasília. Em detrimento de idéias e propostas, o debate tomou a reprovável direção dos ataques levianos e dos rótulos covardes. Queremos debater princípios e projetos. A UnB não se pode ver refém de uma falsa dicotomia entre timotistas e geraldistas. A diversidade de opinião é parte constitutiva da Universidade. Ela é saudável e necessária!

O Maestro Jorge Antunes, Professor Titular da UnB e ex-candidato a senador pelo PSOL, é uma importante voz vanguardista na nossa comunidade e um exemplo de mestre que debate sem se valer de etiquetas. Recentemente, em um texto intitulado "Antitimothismo: doença infantil do esquerdismo
", o Maestro expôs de modo inequívoco o vazio dos discursos apresentados com base em rótulos maniqueístas e desprovidos de sentido.

O Maestro classifica o termo "timotista", utilizado na UnB para associar suas vítimas à irregular Gestão Timothy Mulholland,  como um signo do medo: 

"Passa-se a acreditar que nada será pior que o timothismo. Sabe-se que a expressão não quer dizer coisa alguma. O sufixo ismo, na expressão, não tem nada a ver com filosofias, escolas, ou vertentes ideológicas. O seu acréscimo à palavra timothy se refere simplesmente a questões éticas e morais."

Concordamos inteiramente com o professor e louvamos sua contribuição ao debate honesto e respeitoso, a despeito das divergências que possamos ter quanto a uma universidade de excelência.

Enquanto associação discente, esperamos a construção de uma universidade livre e de excelência em que o diálogo se dê no âmbito das ideias, mas sem argumentos de autoridade. Só assim a reflexão da comunidade será, ao final do processo, consciente e plural!

Compartilhamos, ainda, o comentário do Prof. Carlos Alberto Torres, docente do Departamento de Administração e ex-Deputado Distrital do Partido Popular Socialista, sobre o texto do Maestro.

“Prezado Maestro Jorge Antunes,

O seu artigo é uma grande contribuição ao nosso debate. Concordo com a sua definição (ou antidefinição) de ‘timothismo’, pois ela está impregnada de sua postura sempre presente de enxergar o novo, criativamente, com coragem e integridade. Permita-me registrá-la:

‘Mas o antitimothismo se impregnou nos discursos esquerdistas de tal forma, com tamanha magnitude, que passa a cegar qualquer desavisado. Todo mundo tem medo, pavor, de ser tachado de timothista. A acusação, então, passa a ser o divisor de águas. Passa-se a acreditar que nada será pior que o timothismo. Sabe-se que a expressão não quer dizer coisa alguma. O sufixo ismo, na expressão, não tem nada a ver com filosofias, escolas, ou vertentes ideológicas. O seu acréscimo à palavra timothy se refere simplesmente a questões éticas e morais.’

Permita-me incorporar essa análise, com a qual concordo, em minha elaboração. Embora não concorde com todos os aspectos do seu texto, particularmente com a conclusão de propor o voto nulo. Sei que você não se sentirá ofendido com isso.É que, prezado, assumimos desde a juventude um compromisso inabalável com a democracia e com a justiça social. Esta é a razão pela qual me declaro e me sinto de esquerda, embora no dia-a-dia eu encontre pessoas, com os mesmos compromissos, não preocupadas em assim rotular-se politicamente. Entre o egoísmo e o altruísmo, entre os interesses do capital e os do trabalho e entre os interesses individuais e os do bem comum, fico sempre politicamente com os segundos. Sei que muitos consideram isso uma postura utópica e desmedidamente generosa, e até a consideram ridícula em homens da nossa idade. Mas, penso, isso jamais destruiu a minha individualidade.

De seu texto, muitas coisas mais eu teria a comentar, mas, hoje, é dia de todos lerem o seu artigo, deleitando-se com mais essa obra de arte.

Agregaria, com a sua permissão, minha convicção de que nem sequer preocupações éticas e morais são encontradas entre os que tão facilmente acusam os seus pares, em nossa comunidade, de serem ‘timothistas’. Simplesmente, apelam para esses símbolos e estigmas irracionais com objetivos políticos. A sociedade brasileira está começando a ficar cansada desses santinhos-de-pau-oco. Senão a sociedade brasileira, mas, com certeza, a comunidade da UnB.

Um grande abraço,
Carlos Alberto Torres”
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*Nicolas Powidayko é estudante de economia, conselheiro discente no Conselho de Ensino, Pesquisa e    Extensão (CEPE). Membro da Aliança pela Liberdade desde 2011.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Fomentando uma produção científica de ponta: Incentivos e financiamento

*Por Lucas Bispo

“Uma universidade excelente é uma universidade que produz pesquisa de ponta!” Talvez você pense que essa é uma afirmação auto-evidente. Ledo engano. O que deveria ser um consenso retumbante parece ser ignorado solenemente por vastos setores, mesmo dentro da própria academia.

Mas a Aliança pela Liberdade será eternamente favorável a medidas que privilegiem a produção científica na nossa Universidade. Dentro de uma série de artigos nos quais expomos o que acreditamos ser uma gestão excelente para uma universidade excelente, nos dedicamos aqui a explicar que tipo de política esperamos ver nos próximos anos para aprimorar a pesquisa na UnB.

Vamos lá.

Como aumentar e melhorar a produção científica na universidade? A resposta que nós damos a essa questão baseia-se num simples binômio “incentivo/financiamento”. Primeiro, então, debrucemo-nos sobre a questão dos incentivos.

Para ilustrar a ideia, vosso escriba se arrisca a aventurar-se no competitivo meio esportivo - a afinidade com a bola não é uma das minhas virtudes. Certamente a conquista de uma medalha olímpica é uma vitória sem tamanho, que não vem sem sacrifício e abnegação. Então eu pergunto: O que será que motiva o atleta a empreender o esforço gigantesco necessário para conquistar uma medalha? Seria o orgulho de subir ao pódio ao som do hino de sua nação? A satisfação de ver superadas suas limitações pessoais? O gosto da vitória sobre os adversários?

Acredito que tudo isso compõe a estrutura de incentivos por trás do hercúleo esforço desportivo. De maneira semelhante, um pesquisador seguramente deriva muita satisfação em ver um trabalho seu publicado num grande periódico nacional ou internacional, vendo ideias e conclusões por ele propostas sendo citadas por colegas pesquisadores e subsidiando o avanço da ciência nas mais diversas áreas. Entretanto, há um elemento a mais que figura como grande motivador tanto para o atleta quanto para o pesquisador, que é sua própria remuneração.

Seria ótimo, por exemplo, que houvesse dentro das regras de progressão na carreira do professor algum dispositivo que permitisse o avanço mais rápido dos professores mais produtivos em termos de pesquisa - ao invés disso, há grupos que querem acabar com qualquer gratificação concedida aos professores que se destacam na pesquisa taxando esses artifícios de incentivos “produtivistas”. É claro, entretanto, que a definição da estrutura da carreira extrapola os limites da UnB, cabendo ser discutida por órgãos a ela superiores.

Mas existem muitas medidas que poderiam ser implementadas dentro da alçada da universidade no sentido de privilegiar aqueles pesquisadores que mais se destacam. Dentre as propostas, há, por exemplo, a promoção de editais simplificados para obtenção de recursos para viagens e outros fins direcionados àqueles professores que sejam bolsistas de produtividade do CNPq ou que sejam membros permanentes de programas de pós-graduação avaliados com nota 6 ou 7 pela CAPES. Também poderiam ser concedidas licenças remuneradas prêmio para esses mesmos professores.

Além disso, é preciso eliminar uma série de verdadeiros desincentivos à atividade de pesquisa, materializados numa burocracia pesada, lenta e ineficiente. Necessitamos simplificar os trâmites para aprovação de projetos e liberação de recursos, de modo que o professor possa direcionar seu tempo e suas forças para a pesquisa em si, ao invés de ser obrigado a dispendê-los num esforço homérico para fazer os papéis saírem de uma sala para outra. Afinal de contas, do mesmo modo como queremos nossos atletas nas pistas e nas piscinas, nossos professores precisam estar nos laboratórios e entre os livros, ao invés de estar em meio a jornadas infindáveis em busca de carimbos.

Por fim, a universidade tem que criar esquemas que privilegiem aqueles pesquisadores mais produtivos, de maneira que os menos produtivos se motivem a aumentar a sua produtividade com o intuito de acessar os mesmos benefícios e que os mais produtivos se esforcem para não deixar de sê-lo.

Muito bem. Essa é a nossa proposta para a primeira metade do binômio. A segunda metade diz respeito à questão do financiamento. Desnecessário dizer que um atleta que não tem recursos para lançar mão das tecnologias mais avançadas, para ser apoiado por uma equipe técnica e de saúde capacitada e que não disponha dos insumos para seu treinamento jamais terá chance numa Olimpíada - o que aliás é um drama recorrente na história de muitos dos atletas do nosso país.

De maneira novamente análoga, o pesquisador sem financiamento não poderá ir muito longe e o aspecto chave nisso tudo é que hoje a universidade precisa do dinamismo e da eficiência do setor privado para financiar-se. Ela precisa de processos administrativos que permitam que entidades privadas venham a financiar projetos de pesquisa, por meio de instrumentos como os convênios, as parcerias e as próprias fundações de apoio. Imagine você que alguém que queira fazer uma doação (!!!) à universidade enfrenta hoje dificuldades em fazê-lo, como se a universidade não precisasse desesperadamente de receber recursos externos.

“Atentado contra a autonomia universitária!” - bradam alguns, argumentando que o setor privado vai promover agendas de pesquisa exclusivas, capitalistas, imperialistas, ou sei lá o quê. Mas eu pergunto: qual é a autonomia que tem uma instituição que admite financiamento somente de UMA fonte, que é o Estado? Será se isso não abre brecha para o Estado promover agendas de pesquisa unicamente pró-Estado ou pró-governo?

Não me soa muito democrático... nem a mim nem aos teóricos da conspiração de plantão. De todo modo, nós precisamos diversificar nossas fontes de recursos e aprofundar as conexões entre o que é produzido dentro da Universidade e o que a sociedade precisa lá fora. Precisamos inundar-nos de recursos para que a Universidade passe a atender efetivamente as demandas tecnológicas e intelectuais da sociedade, materializada nas empresas, nas ONGs, nos indivíduos.

Deixo um último exemplo. Você quase com certeza já ouviu falar da Tabela FIPE, não? Aquela que fornece os preços médios de um monte de veículos no mercado nacional? Pois saiba que essa tabela é utilizada por 25 estados para ajudar no cálculo do IPVA. É consultada por compradores e vendedores de carros o tempo inteiro para que tenham uma ideia de quanto valem seus veículos, por companhias de seguro para definir o valor dos preços cobrados e dos prêmios pagos. É um serviço de utilidade enorme.
           
E você sabe o que é a FIPE?

“A Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas - FIPE é uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, criada em 1973 para apoiar o Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), com destacada atuação das áreas de pesquisa e ensino.” Saiba mais aqui. (http://fipe.org.br/web/index.asp)

Ou seja, trata-se de uma entidade privada, que admite financiamento privado, celebrando contrato com governos e com empresas para a prestação de serviços que não só contribuem para o país como um todo, mas também competem para que o departamento de economia da FEA-USP seja um dos mais destacados do país, sendo parte da melhor universidade do país. É exatamente isso o que nós queremos para a UnB. E você?


*Lucas Bispo é estudante de Economia e conselheiro discente no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) da Universidade de Brasília. É membro da Aliança pela Liberdade desde 2012.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Por uma UnB Segura


*Por Davi Brito

Furtos, depredações, assaltos, tentativas de sequestros e até estupros. É com espantosa frequência que estudantes de nossa universidade se queixam e se mobilizam para tentar amenizar os efeitos dessas ocorrências. O mais inacreditável é que esta realidade se mantém, e se agrava, através dos anos e gestões. Mesmo com toda a comunidade acadêmica submetida a tal insegurança, até hoje não foram tomadas medidas eficazes.

 A insegurança é um problema que afeta a todos que frequentem um dos campi, inclusive àqueles que não fazem parte da comunidade acadêmica. Hoje, o campus Darcy Ribeiro é responsável pela maior parte da criminalidade na Asa Norte. Não há meios de uma universidade alcançar sua plena capacidade de ensino, pesquisa e extenção se as pessoas que circulam na universidade e atráves dela não têm segurança. 

 Frente a este cenário, o que esperamos de nosso próximo reitor é objetividade, sem demagogias e politicagens. O problema é latente e temos que combatê-lo. Elencamos 10 pontos que não devem ser olvidados para que tudo seja efetivamente resolvido. 

 01. Batalhão Universitário (ou Policiamento Cidadão Universitário)
O policiamento nos campi é necessário, mas, não menos importante, é o cuidado para que tal proteção não ameace a liberdade de expressão e pensamento, que é um dos pilares da criação acadêmica. Na Audiência Pública sobre Segurança na UnB realizada na Câmara Legislativa do DF no dia 16 de março deste ano, pelo DCE, sugerimos a criação de um Batalhão Universitário, uma seção do corpo da polícia do DF que será treinada especificamente para lidar com o público universitário. Ou seja, além do treinamento para prevenir crimes, os policiais estarão preparados também para tratar devidamente as diferentes facetas da comunidade acadêmica. O Decanato de Assuntos Comunitários e os estudantes, desde março, estão se movendo e dialogando com os órgãos governamentais responsáveis para concretizar a medida supracitada. Entretanto, se realmente queremos que o policiamento universitário seja um exmplo a ser seguido, esse diálogo tem que ser perene e comprometido, sendo levado a cabo por todos os segmentos de nossa universidade e protagonizado pela administração superior da Universidade.

 02. CONSEGs (Conselho Comunitário de Segurança da UnB) 
A atenção que a atual administração tem dado a este Conselho promete gerar excelentes resultados. Contudo, seu funcionamento é de longo prazo e merece atenção contínua, além de maior publicidade de suas ações e resultados. Deve-se fortalecer a presença dos CONSEGs nos campi avançados.

 03. Câmeras 
Não precisamos apenas de câmeras, mas de pessoal qualificado para operá-las, uma rede elétrica que as suportem e uma comunicação veloz e eficiente com os corpos policiais para que infrações sejam impedidas.
  
04. Devida atenção à CoPP 
A Coordenadoria de Proteção ao Patrimônio cuida da segurança de nossa universidade, mas padece da falta de inúmeros materiais básicos, como até mesmo lanternas para rondas noturnas e livros de ocorrências. Não raro, a CoPP não tem autonomia para tomar medidas essenciais à nossa segurança. 

 05. Conscientização
Muitos dos problemas recorrentes nos campi poderiam ser evitados se os indivíduos tomassem um pouco mais de cuidado, deste modo, se fazem imperativas camapanhas educativas sobre o tema. Tão importante quanto é saber como proceder se presenciar uma ocorrência e o que deve ser feito após ela.

 06. Iluminação e áreas descampadas
Locais ermos e escuros são um convite ao crime e abundam na UnB. No campus Darcy Ribeiro, há matagais altos em caminhos que os estudantes fazem até as principais vias, inúmeros estacionamentos carecem do mínimo de iluminação necessária e existem várias localidades desertas. Aumentar a movimentação em certas áreas é recomendável, dar manutenção aos caminhos feitos pelos alunos é imprescindível e melhorar a iluminação é o mínimo que podemos esperar da nova gestão.

 07. Defesa Civil 
Muitos dos prédios da UnB não seguem as normas de segurança pública estabelecidas pelos bombeiros, o mais evidente deles é o ICC. A falta de extintores e outras precauções já foi motivo de reportagens e denúncias, mas a situação permanece colocando milhares de vida em risco todos os dias. 

 08. Estreita comunicação com os corpos policiais 
O dever de nossos seguranças é a proteção patrimonial, todo o resto cabe às estruturas estatais já existentes. Por este motivo nossa segurança interna, que conhece bem a UnB, deve ter o mais fácil e rápido contato com a polícia, de modo que qualquer ocorrência possa ser atendida tempestivamente.

 09. Quatro Campi 
A UnB é uma única universidade, mas tem 4 campi. Toda estrutura disponível ao Darcy deve ser igualmente disponível aos outros 3 campi. A mobilidade é um problema recorrente, mas há também peculiaridades que devem ser constantemente averiguadas em cada local. 

 10. Trânsito e mobilidade
A falta de iluminação e sinalização de trânsito oferece sérios riscos a vida da comunidade. Pouquíssimos alunos consideram a possibilidade de locomoção por bicicletas porque não há locais seguros para guardá-las e nem caminhos adequados para utilizá-las. O incentivo ao uso de bicicletas, além de todas as outras vantagens, pode diminuir os acidentes de trânsito, diminuir a superlotação dos estacionamentos e aumentar a circulação de pessoas, tornando nossa universidade um local mais seguro.

 *Davi Brito, é graduando em Direito e ex-presidente da Aliança pela Liberdade.

domingo, 12 de agosto de 2012

Greve: Estamos no fim?/ Instituto de Ciência Política pede fim da paralisação/ Vamos calcular?



*Por Mateus Lôbo

Há quantos dias a Universidade está em greve? Também perdi a conta, mas um fato é verdade: os dias já são meses!

A greve é um direito constitucional e não serei eu a dizer aos nossos docentes quando voltarem ou não dela. Cada categoria com seus direitos, com seus deveres. Não obstante o movimento grevista ainda seja forte e não haja uma perspectiva concreta de quando voltaremos à normalidade acadêmica, já há indícios dentro da nossa Universidade de que algo pode mudar em breve.

Em 27 de julho, a diretoria da Associação de Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB) divulgou nota em que sugeria o fim de greve. Dizem trechos do documento:

A diretoria da ADUnB entende que a proposta enviada pelo governo representa um  avanço significativo em relação à proposta anterior. (...) A proposta (...) não é a ideal, mas é importante perguntar se é possível obter mais dado o cenário econômico atual.

Além disso, no fim da semana passada o Instituto de Ciência Política, em atitude inédita entre as Faculdades e Institutos da Universidade de Brasília nesta greve, divulgou nota conclamando a retomada as salas de aula e o término da paralisação:

Os professores do Instituto de Ciência Política consideram que já obtivemos conquistas importantes com nosso movimento e que portanto é hora de retomar as salas de aula e terminar a greve. Para isso, conclamamos os demais colegas para comparecerem às assembleias da ADUnB e votar a favor do término da greve.

Os indícios estão dados, agora nos resta esperar e torcer para quando voltarmos às aulas não sejamos, mais uma vez, os maiores prejudicados! Até lá, vamos sabendo dos nossos destinos pela "Calculadora da Greve", desenvolvida pelo estudante João Paulo Apolinário Passos de Ciência da Computação - UnB.

*Mateus Lôbo é graduando em Ciência Política e representante discente no Conselho Universitário (CONSUNI) da Universidade de Brasília. É o atual Presidente da Aliança pela Liberdade.

O conteúdo deste texto é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião da Aliança pela Liberdade.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Radiografia dos salários do funcionalismo público

Nosso membro fundador, Carlos A. B. Góes, hoje pesquisador de economia latino-americana na Johns Hopkins University, publicou este excelente artigo no Valor Econômico
Como aperitivo e em tempos de greve: 

"Contudo, é difícil argumentar em favor de salários ainda maiores para um funcionalismo público que ganha, na média, quase 75% mais do que o resto da sociedade que o sustenta.

Íntegra do artigo:

Radiografia dos salários do funcionalismo público  

Por Carlos A. B. Góes
                                
No último mês, notícias sobre mobilizações de greves nacionais ocuparam lugar de destaque na imprensa. Os professores e técnicos das universidades federais interromperam seus trabalhos. O mesmo ocorreu com os servidores do ensino técnico e tecnológico. Até mesmo os funcionários do Itamaraty - assistentes e oficiais de Chancelaria e alguns diplomatas - que tradicionalmente não entram em greve cruzaram os braços.
O aumento no número de greves de servidores públicos é um fenômeno generalizado no país. Segundo dados do Dieese, entre 2007 e 2011 as greves no setor público aumentaram 138%. Seria de se esperar que essa diferença fosse explicada por uma estagnação nos salários do funcionalismo público num passado recente. Entretanto, uma análise desses números nos mostra que o salário real dos funcionários públicos - isto é, já corrigido pela inflação - aumentou 28,2% desde 2003, com uma aceleração a partir de 2005.
Contra-intuitivamente, períodos de aumentos significativos no salário real foram seguidos de um crescimento no número de greves. Ao invés de uma curva de satisfação e acomodação com os ganhos reais, a forte correlação entre o número de greves que se seguem a períodos de aumento no salário real parece apontar para uma curva de aprendizado: como se os sindicatos percebessem que sua estratégia está funcionando e intensificassem suas ações em busca de ganhos ainda maiores.
Esse fenômeno vem criando uma distorção entre os níveis de ganho salarial entre os setores público e privado da economia. No setor privado, os aumentos no salário real estão limitados pelos ganhos de produtividade (em economês, limitados pelo "produto marginal do trabalho") e pelo poder de barganha de firmas e sindicatos na negociação salarial. No setor público a medida de produtividade não é objetiva e a relação entre o empregador - o governo - e os sindicatos tem idiossincrasias políticas mais complexas. Em contraste com os 28,2% de ganhos reais no setor público citados acima, desde 2003, os salários reais no setor privado cresceram 6,9%. Isso significa dizer que o crescimento relativo dos rendimentos reais do setor público foi quatro vezes maior que o do setor privado.
Tal situação se torna um problema quando se considera que os salários do setor público, ao começo da década, já eram maiores que os do setor privado. Como a maior parte da população é remunerada no setor privado, isso significa que o funcionalismo público tem tornado-se cada vez mais parte da elite econômica. Por exemplo, o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) reivindica em suas negociações de greve um salário mensal de R$ 22.633,92 para professores titulares das universidades federais. Se os salários reinvindicados se tornarem realidade, isso significará que esses professores terão uma renda maior do que a de 99,5% da população brasileira. Com toda a deferência necessária à nobre arte do magistério, a transferência de renda para aqueles que constituem 0,5% mais abastado do país parece difícil de ser justificada como objeto de qualquer política pública.
O hiato entre a renda média do funcionalismo público e a renda média dos demais trabalhadores brasileiros tem aumentado fortemente na última década. Tomando como base dados da Pesquisa Mensal de Empregos do IBGE, é possível verificar que, durante o ano de 2003, um funcionário público ganhou mensalmente, em média, R$ 602 a mais que um trabalhador do setor privado. Já em 2011, essa diferença aumentou para R$ 1164. Além disso, estudo recente da PUC-Rio aponta que, quando considerados salários e rendimentos com aposentadorias, a vantagem para o funcionalismo público torna-se prevalente para todos os níveis de escolaridade - de trabalhadores sem educação formal àqueles com pós-graduação. Como os funcionários públicos ganham mais que a média, o aumento dessa diferença constitui objetivamente uma política de concentração de renda.
A atual tendência funciona como forte atrativo para que mais pessoas saiam do setor privado e busquem os maiores salários e benefícios do setor público. Segundo a Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac), associação formada por cursos preparatórios para concursos, cerca de 11 milhões de pessoas se candidataram a vagas no funcionalismo público em 2011. E, julgando pela atual conjuntura, não existe perspectiva de mudança nesse cenário. À medida que os trabalhadores mais capacitados deixam o setor privado, menores tenderão a ser, no longo prazo, as perspectivas de crescimento da produtividade da economia.
Não há dúvidas de que o país precisa de funcionários públicos capacitados e justamente remunerados que ajudem a minimizar as ineficiências da gestão governamental e combater a corrupção. Contudo, é difícil argumentar em favor de salários ainda maiores para um funcionalismo público que ganha, na média, quase 75% mais do que o resto da sociedade que o sustenta. Uma radiografia dos salários no setor público revela, portanto, uma política que concentra renda, drena talentos dos setores produtivos e, por questões políticas, garante aumentos reais maiores do que os ganhos médios de produtividade do país - minando as bases de seu crescimento no longo prazo.

Carlos A. B. Góes é pesquisador de economia latino-americana vinculado à Universidade Johns Hopkins.

domingo, 5 de agosto de 2012

Carta aos Reitoráveis



Prezados reitoráveis,

Há quatro anos, como hoje, nossa Universidade estava em processo de escolha do seu novo Reitor; após período de grave crise institucional, quando diversas irregularidades da gestão Timothy Mulholland se tornaram públicas. Em 2008 o escolhido para ser o nosso dirigente máximo foi o professor José Geraldo de Sousa Júnior. 

Naquela oportunidade esta Aliança pela Liberdade ainda não existia. Foi em 2009 que a Aliança deu os seus primeiros passos, movida pela certeza de seus fundadores de que era necessária uma Universidade excelente, plural e meritocrática, pois só assim superaríamos o esfacelamento institucional que abatia a Universidade de Brasília naqueles tempos.

Desde então, temos participado das discussões fundamentais da nossa Universidade, as quais não foram poucas, tampouco fáceis. Entretanto, se há o bom combate, por que não tomar parte? Assim, passados 4 anos desde o último processo de escolha do Reitor da UnB, tornamos público à Universidade de Brasília aquilo que esperamos do nosso próximo Reitor ou Reitora:

* Assistência estudantil de qualidade, auxiliando o estudante social e economicamente vulnerável. O quadro discente das universidade brasileiras é formado principalmente pelas classes abastadas, resultado da desigualdade de renda do nosso país. Necessário, portanto, amparar os estudantes em vulnerabilidade socioeconômica para  permanecerem no ensino superior público, o que tende a diminuir a evasão e proporciona oportunidade de ascensão social àqueles que jamais poderiam fazê-lo senão por meio da educação.

* É essencial uma UnB que não seja vítima da violência e não banalize a constante agressão ao nosso patrimônio e à nossa dignidade. Não somos intocáveis e devemos nos sujeitar aos mesmos direitos e deveres da sociedade que nos custeia. A presença de um Batalhão Universitário, juntamente com uma política de segurança interna, em todos os campi, é fundamental para permitir um ambiente seguro ao desempenho de nossas atividades cotidianas dentro da Universidade. Entendemos que a ausência de ambos é um convite ao crime.

* A universidade deve investir na inclusão de pessoas com necessidades especiais com espaços acessíveis para todos, combate ao preconceito e incentivo da gentileza. E deve servir de exemplo para a sociedade. Por desleixo, há detalhes deixados de lado, o que prejudica o desempenho destes estudantes, tirando lhes a igualdade de condições.

* Deve-se evitar ao máximo a interrupção parcial ou total de atividades acadêmicas por fatores técnicos ou naturais com ações preventivas de manutenção e planejamento a longo prazo. Além disso, deve-se procurar acordos e estudos com as autoridades competentes para melhorar o transporte público dentro dos campi.

* Os campi devem conscientizar seus alunos a respeito do consumo de energia elétrica, água, papel e outros recursos. É preciso procurar mais eficiência em todos os espaços da universidade, pois gasta-se dinheiro devido ao desperdício, que é inadmissível quando consideram-se tecnologias existentes para reduzí-lo.

* É essencial uma administração que busque todas as formas de financiamento para pesquisas, ensino e projetos de extensão, sem depender exclusivamente dos recursos da União, com uma política de captação de recursos moderna e transparente.  A nossa Universidade possui tradição e estrutura institucional para tanto. Uma instituição que não busca formas alternativas de captação de recursos escolhe o fracasso e não a produção de ponta.

* A gestão deve ser compartilhada, mas isso não é justificativa para a omissão institucional. Em outras palavras, o reitor continua a ser o reitor. Instituições são movidas por regras e padrões de convivência. Caso contrário, prepondera o autoritarismo em vez do pleno exercício das competências de cada membro da comunidade acadêmica.

* A Universidade de Brasília necessita de um Parque Cientifico e Tecnológico (PCTec) e a omissão é mutilar a instituição e podar o futuro de muitos, especialmente os mais pobres. Omitir-se nesse projeto implica em deixar de contribuir para o desenvolvimento econômico e social tanto do DF como do país. A Universidade é o ambiente mais apropriado para a inovação tecnológica, ao lado da pesquisa e dos mais renomados doutores presentes em nosso quadro. Portanto, não devemos desperdiçar o enorme potencial dessa iniciativa a favor de nossa comunidade e da sociedade brasileira. 

* A UnB precisa de mais gestão e menos discurso somado a inapetência administrativa. Uma instituição de nível internacional se faz com ação, com uma política de longo prazo que valorize a excelência acadêmica e a pluralidade de ideias e não com a eloqüência de discursos vazios, que apenas escondem ineficiência administrativa trajada de vanguarda.

* Maior investimento em pesquisa e facilidade em enquadrar novos docentes nos programas de pós-graduação, tornando a UnB um pólo de atração dos melhores cérebros do país, tal como fazem USP e UNICAMP. Do tripé que forma a base acadêmica de uma universidade deve-se conceder atenção especial à pesquisa de ponta e qualificada, devido aos efeitos positivos no quadro docente, no ensino e na extensão. É necessário, pois, que a universidade se torne pólo de atração aos novos professores do país, além de lhes proporcionar condições necessárias à pesquisa e a participação nos melhores programas de pós-graduação do Brasil.

* É essencial uma Administração que faça os Conselhos Superiores não só funcionarem, mas funcionarem adequadamente, ou seja, não sejam uma reunião para longos e inúteis discursos. Com uma leitura rápida das normas da UnB, podemos entender a relevância dos Conselhos. A boa atuação deles é o que de fato decidirá os caminhos e o sucesso de nossa Universidade. Conselhos que funcionem de forma produtiva e responsável podem e devem servir como freio para gestões parasitárias, partidárias e ineficazes. E, por outro lado, devem servir como inspiração para que a Administração Superior da UnB irrigue suas políticas e realizações com o anseio crítico da comunidade.

* É essencial uma Administração que promova maior sinergia entre os campi da UnB e com a sociedade, procurando valorizar e promover os estudantes dos novos campi. Nós estamos em uma Universidade multicampi, que deve estar inteira em todos eles. É uma realidade que não pode esperar tanto! Os outros campi não devem depender do Darcy Ribeiro, seja para RU, BCE ou assuntos burocráticos. Não é razoável existir dificuldades à integração entre os Campi. Além disso, a  mobilidade acadêmica e física deve ser garantida.

* A UnB precisa ter uma política de internacionalização mais abrangente e eficiente. Nenhuma Universidade que almeje estar entre as melhores pode se abster de realizar todos os esforços possíveis para se inserir no ambiente internacional. A pesquisa talvez seja uma das atividades humanas mais internacionalizadas da atualidade e não poderia ser diferente, à medida que esta é a atividade que concentra os maiores especialistas do mundo em torno de um dado tema. Uma Universidade que produz pesquisa de excelência e ensina com excelência, estende-se sobre a sociedade também com excelência. 

* A Universidade precisa de uma Secretaria de Comunicação cuja direção seja nomeada pelo Conselho Superior (CONSUNI) e não mais pela Reitoria. Não podemos mais conviver com o uso político da Secretaria de Comunicação da Universidade, que, em vez de servir a comunidade, corre o risco de servir como meio de propaganda das pautas e pontos de vistas da Reitoria.

* A UnB precisa ser pioneira na realização de pesquisas de avaliação com egressos. Uma Universidade só alcançará excelência se conseguir formar egressos que aproveitem ao máximo sua formação acadêmica na vida profissional. Daí a necessidade da Universidade acompanhar como o estudante que saiu recentemente de seus bancos avalia a formação recebida. Sem esse tipo de informação, será impossível aperfeiçoar os cursos e corrigir eventuais falhas para os que ainda estão na graduação.

* Uma instituição aparelhada é um Partido Político e não uma Universidade. Uma instituição que se permita influenciar por pautas partidárias atenta contra si mesma, no sentido de que se expõe ao risco real de abrir mão de seu livre pensamento. 

*A administração não pode tolerar autoritarismo de nenhuma ordem. Que tenhamos orgulho da UnB, que a Universidade seja  referência de qualidade acadêmica e de liberdade de cátedra, que possamos nos sentir livres e como parte da comunidade, que a UnB seja uma Universidade libertadora e indispensável para Brasília e para o Brasil.

Estimados votos de sucesso,
Associação Discente Aliança pela Liberdade.

Reafirmando o compromisso com aqueles que representamos e com toda Universidade de Brasília, este documento foi entregue a todos os postulantes à Reitoria da nossa Universidade.

Blog da Liberdade